domingo, 24 de agosto de 2008

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Ó vida!


Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.

Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei

Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na
[inteligência,

Consangüinidade com o mistério das coisas, choque

Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,

Ou se há outra significação para isto mais cômoda e

[feliz.

Seja o que for, era melhor não ter nascido,

Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,

A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,

A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no
[chão,
de sair

Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas
[as
sacadas,

E ir ser selvagem para a morte entre árvores e

[esquecimentos,

Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,

E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida
[com
o que eu penso,

Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó
[vida.

*Álvaro de Campos - Trecho da Ode "Passagem das Horas"

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Saudade!

Namorada diz:
oi gato
Namorado diz:
falaaaaaaaaaaaaaaaa tchutchuca, tamo nessas carne?
Namorada diz:
e pensar que eu fui falar contigo pra dizer que te amo, mas diante de tanto romantismo, nem sei mais o que dizer...
Namorado diz:
diz que tá com saudade. Aí o "te amo" fica implícito
Namorada diz:
tô com saudades

Tarantino's Mind

Pra quem gosta de cinema. Mesmo que não tenha visto nada do Quentin Tarantino.

É, eu só vi Kill Bill, e achei uma grande merda ensanguentada!










Mas que isso é uma pira, é!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Você é tão Paris...


Desde pequena o mimo lhe estragou. Suas vontades eram atendidas prontamente por seus pais e por todos que a cercavam. Quando não o faziam por amor, o faziam porque eram pagos para isso. E, mesmo quando criança, ela sabia disso.

Uma princesa. Cabelos lisos e naturalmente loiros emolduravam o rosto de expressões firmes e, ao mesmo tempo, delicadas. Os olhos verdes ao alto de um belo corpo e a educação de primeira, compunham o retrato da perfeição. Disso, ela também sabia.

Seu pai, empresário de renome numa pequena cidade do interior, tirou a sorte grande ao investir em um dos ramos mais lucrativos do litoral. A fortuna que já existia aumentou muito, em muito pouco tempo . Ela acompanhou todo o processo de perto.

Para a faculdade, pouca importância. Para o futuro, seguir os passos do pai. Para os negócios, nenhum tato, mas uma presença marcante e um sobrenome forte, mesmo sem o império que o sustentava.

Aos 20 anos, ela já exercia um cargo de alto escalão na empresa do pai. À frente dos negócios, ela comandava uma equipe de mais de 50 profissionais. Todos tratados aos gritos. Agora, mais do que nunca, suas vontades tinham de ser atendidas prontamente. O poder, conscientemente, estava em suas mãos.

Na vida pessoal, não tinha mais de dois ou três amigos, que, segundo ela, deviam ter algum interesse. No amor, seu gênio forte anulou qualquer possibilidade de um relacionamento estável. Ela vivia só, até encontrar um homem que desagravada seus pais. Com esse, casou-se.

Com o passar dos anos, algumas medidas foram necessárias para que sua luz não fosse ofuscada. Lipoaspirações, cirurgias plásticas e veto para qualquer mulher bonita que se candidatasse a um emprego na, agora, sua empresa, foram as primeiras a serem tomadas.

Brilhando, ela não fala com os irmãos e, depois de casada, cada briga com o marido causa um dia de tensão entre seus subordinados. Em suas festas de aniversário, uma meia dúzia de três ou quatro pessoas com interesses explícitos e em seu lindo rosto, um mau humor que a enfeia. Mas em tudo isso, o que importa mesmo é que os negócios vão de vento em popa e que a segunda lua de mel do casamento que, segundo as más línguas, não vai durar muito tempo, será em Paris.


segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Amor é prosa...


Amava-o como jamais poderia amar nenhum outro homem. Sentia naqueles braços a proteção que toda mulher frágil precisava. Fragilidade era-lhe uma característica bem definida. Pensava nele a todo instante, a ponto de não conseguir imaginar sua vida sem que a dele estivesse ali, à distância de um olhar de canto.
Desde que o conheceu, naquele domingo à noite em que tomava um martini sozinha, sentada à beira do balcão molhado do bar que freqüentava nas noites de insônia, teve certeza de que com ele seria diferente. Idealizou a família perfeita, com um casal de filhos bonitos e inteligentes, um casamento invejado por todos, estabilidade financeira e vida social ativa. E tudo sempre foi assim, exatamente como o esperado.
Ele era um homem bom. Dedicado ao lar, pai presente, profissional respeitado. Sempre a apoiou em tudo. Acompanhava-a às compras sem reclamar a demora e tinha com as crianças uma atenção, às vezes, exagerada. Sua vida era perfeita! O amor transbordáva-lhe no coração e a felicidade era estado constante. Vivia Uma prosa bem escrita, de capítulos costurados com sentimentos e satisfações que, normalmente, levam o leitor ao pensamento de que só na ficção há tamanho prazer em viver.
Ao amanhecer, após uma longa noite de amor – no sexo, como na vida, se acertavam com maestria – pensou que tudo aquilo lhe cansava. O amor lhe cansava. A partir daí, as noites de insônia voltaram, porém, sem interferir na relação milimetricamente acertada entre o casal e todo o resto. Não podia se ver longe daquela vida que construíra ao custo de suor e sorte. Não podia se imaginar longe do seu amor eterno – que, agora, cansava-a.
Uma insônia, mais um Martini, o mesmo balcão molhado. Foi a primeira vez que o viu. Não chegava aos pés da beleza, do porte, da aura de homem ideal que vira no amor de sua vida, anos atrás. Pelo contrário, quem lhe olhasse direito, percebia rapidamente que dele, não se podia esperar muito. Ele chegou ao seu lado, sentou-se e recitou ao seu ouvido uma pequena poesia. Era o que ela precisava para descansar.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Querido Diário.

Estou passando por um momento de dificuldade. Hoje eu limpei meu armário. Isso significa mais do que tirar pó. Significa eliminar sete anos de memórias. Exatamente. Eu tinha, entulhados no meu armário, papéis que guardavam cada dia dos últimos sete anos.
Por que eu resolvi jogar tudo fora? Não sei. Acho que tem a ver com o momento que eu estou passando. É, eu também pedi demissão e terminei minha graduação em Jornalismo. Deve ter sido isso. Era a hora. Se não fizesse isso hoje, nunca mais faria.
Bem, fiz. SACO!
Minhas apostilas de “ordenha sanitária” e “topografia aplicada”. (Fiz um segundo grau técnico em agropecuária e tinha tudo guardado). As minhas provas de cunicultura – guardei uma que tem uma receita de pão de queijo, que o Sérgio me passou, anotada atrás, de irrigação e drenagem, de nutrição animal.
Não, eu não lembro mais nada disso. Não seria um bom técnico em agropecuária. Acho que foi por isso que parti pra comunicação social. Mas isso não importa...
Aliás, meus textos de teoria da comunicação, meus paper’s, minhas matérias, programas de rádio inteiros...
É a minha história. E agora está tudo queimado. E o pior de tudo: EU QUEIMEI. Não posso colocar a culpa em ninguém. MERDA.
Eu sentei logo depois do almoço, com aquela pilha monstruosa de papel e comecei a ler, um por um. Cada um me trazia uma lembrança que já estava apagada da minha memória. Lembranças boas, de um passado recente e saudoso. Mas mesmo assim, queimei tudo. Agora, é esperar o tempo passar, e a memória reavivada hoje vai apagar tudo de novo. Espero que ela apague o “hoje” também.