Pecado Capital

Sou um cara vaidoso. Eu assumo. Gosto de me sentir bem com uma roupa bacana, de usar um perfume legal, de exibir meus olhos azuis. Mas calma, estou longe de me enquadrar no metrosexualismo. Acho que tudo tem limites. Vaidade é como droga, tem que ser usada com moderação.
Prova do meu desprendimento é que esse final de semana eu não tive vontade de fazer a barba. Ok, não é bem uma barba. Minha irmã diz que é uma penugem. Eu prefiro chamar de um projeto prum futuro barbado. Enfim, não fiz.
Hoje, segunda-feira, acordei cedo, com sono e sem aquela vontade de acordar que o frejat canta. Pulei da cama já atrasado - como sempre - e dei uma pequena passada de mão no meu cabelo ruim que precisa de corte urgente. Me coloquei no uniforme cinza lápide que uso quase que diariamente para trabalhar e segui cheio de auto estima para mais um dia no escritório.
Confesso que não me surpreendi quando ouvi, da maioria dos meus colegas de trabalho, as piadinhas sobre o meu estado. Disseram que eu parecia um mendigo. Tudo isso porque eu não tinha me arrumado. Ok, não há nada demais nisso. Eu sei. Na verdade, só estou contando essa história porque foi esse o fato que me fez pensar no lance da vaidade que nos torna escravos. Essa vaidade que matou Amanda. Que Amanda? Essa aí embaixo, a personagem do mini conto que veio à mente do mendigo de hoje de manhã...

Amanda era de parar o trânsito. Seus longos cabelos lisos emolduravam um rosto branco que parecia feito à mão. Seu corpo era cobiçado por homens em busca de belas bundas e invejado por mulheres em busca de belos peitos. Amanda sabia de sua beleza. Mostrava seu orgulho a cada passo rebolado. Andava sempre bem vestida e maquiada, e não precisava olhar para os lados ao atravessar as ruas. Todos paravam para vê-la.
Até que um dia, Amanda foi atropelada e morreu. Ah, a bela Amanda. Morreu feliz! Para ela a vida não teria mais sentido. Naquele dia o trânsito não havia parado para lhe ver passar. Ela, sem dúvida, preferia a morte...